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COMO ORAR

 

«Senhor, ensina-nos a orar», pediram os discípulos a Jesus (Lc 11,1).

 

E aprender a orar é também o desejo de todos nós, que se por um lado nos vamos dando conta de que quanto mais orarmos mais gostamos de orar, por outro lado sentimos a pobreza da nossa oração e gostaríamos de orar melhor.

 

Importa por isso que, humildemente, continuemos a pedir ao Senhor que nos ensine a orar, conscientes de que a oração é acima de tudo um dom de Deus, o dom de sermos admitidos à Sua intimidade, dom que Ele dá a quem reza, como dizia S. João Clímaco.

 

A quem persevera no esforço de se tornar disponível na presença de Deus, o Senhor não pode deixar de o envolver na Sua Graça, no Seu Amor, porque é isso que Ele quer e Lhe agrada.

 

Porque a oração é fundamentalmente este encontro com Deus. Deus que é… que está… que nos ama… que vem… que bate à porta (Apoc. 3, 20)… que espera pos nós…

 

Tal encontro é-nos facilitado especialmente pela presença em nós de Jesus Cristo (Mt. 28-20), porque foi por Cristo e em Cristo que Deus quis dar-se a conhecer. E é n’Ele e por Ele que nós vamos ao Pai e o Pai vem a nós. «Se alguém me ama… meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele morada» (Jo. 14,023)

 

O que torna grande, valiosa, eficaz, a nossa oração de cristãos é que em nós palpita a oração de Cristo… Porque é Cristo que ora em mim, que ora em cada cristão.

 

A oração do Coração Sacerdotal de Jesus, que todos os dias rezamos no Movimento, é bem a expressão desta realidade magnífica.

 

Quando oro, é Cristo que ora em mim. Mas isto não se faz sem a minha participação. «Para que brilhe a chama de uma lâmpada de azeite é preciso que o azeite se deixe consumir» (Caffarel).

 

É este o sentido profundo do desejo que temos de que o Senhor nos ensine a rezar: que a nossa vida e a nossa oração sejam cada vez mais vida e oração de Cristo em nós.

 

*

 

Para aprendermos a orar e a perseverar na nossa hora seguida de oração, importa ter consciência de que é toda a nossa pessoa, é o homem todo que deve comprometer-se na oração. Não podemos rezar como se não tivéssemos corpo, como se fôssemos só espírito, anjos…

 

Corpo e espírito são solidários, indissolúveis, enquanto vivermos neste mundo. Ambos constituem a pessoa que somos. Por isso é com o corpo e com o espírito que devemos orar.

 

Quando Cristo orava, era o seu Corpo, a sua atitude corporal, que os discípulos viam. E era essa atitude, naturalmente bela, que os levava a pedir-Lhe para os ensinar.

 

As nossas posições e atitudes durante a oração, tanto quanto possível estáveis, imóveis, podem facilitar a calma, a paz, a harmonia interior, a concentração… Mas não podem deixar de ser ao mesmo tempo despertas, pois de contrário facilmente virá o entorpecimento ou mesmo o sono.

 

Portanto, para acolher o Senhor na oração, nós precisamos de ter o corpo equilibrado e desperto, porque as atitudes corporais podem ajudar as nossas disposições espirituais. Outras vezes serão estas que se traduzem no nosso corpo.

 

Cada um deve pois procurar as posições e atitudes que mais facilitem a elevação e concentração do espírito em Deus.

 

Há quem pense que só faz boa oração quando não tem distracções, quando «sente» a presença de Deus ou quando consegue cultivar belos e profundos pensamentos sobre Deus. Mas, como tudo isto falha com muita frequência, facilmente vem o desânimo.

 

Ora, o essencial da oração não está na estabilidade da atenção, nem no que o «eu sinto» ou «penso», mas no que «eu quero». Ou seja na adesão da minha vontade à de Deus.

 

Como sabemos, os aviões têm um «piloto automático» que, uma vez ligado, evita que o avião se desvie da sua rota. Também nós, se no início da oração fizermos um acto de vontade, lúcido, firme, determinado, de queremos o que Deus quer, de estarmos ao seu dispor, é como se ligássemos o nosso «piloto automático».

 

E durante a oração, quando surjam as distracções, bastará que reafirmemos o «eu quero» e não teremos o direito de pensar que a nossa oração foi má.

 

Para nos ajudar a formular este «eu quero» e a criar um clima propício para a nossa hora de oração, precisamos de, exteriormente, encontrar uma posição cómoda e desperta e, interiormente, consciencializar a presença de Deus, que me espera…

 

Assim postos na presença de Deus, podemos começar por escolher uma ou outra oração simples, conhecida ou espontânea,  ou alguma frase bíblica, cujas palavras iremos pronunciando lentamente, deixando-as passar pelo coração…

 

​ Algumas sugestões:

 

       ̶  Invocação do Espírito Santo…

 

̶  A oração que, em Fátima, o anjo ensinou aos pastorinhos: «Meu Deus eu creio… Santíssima Trindade…

 

       ̶  Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a vossa 

          palavra» (Lc. 1, 38)

 

̶  Â«Ã“ Senhor, nosso Deus, como é grande o vosso nome em todo o Universo» (Sl.     8, 2)

 

̶  Â«Para vós, meu Deus, elevo a minha alma» Sl 25, 1)

 

̶  Â«A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo» (Sl 42, 3).

 

̶  Alguma ou algumas das invocações do Pai Nosso…

 

Muito nos poderá também ajudar, se consciencializarmos a presença de Nossa Senhora e do nosso anjo da guarda, pedindo-lhes que nos assistam nesse nosso encontro com o Senhor.

 

 Depois, cada um irá encontrando a melhor maneira de «estar» e dialogar com Ele ao longo de todo o tempo de oração, tendo bem consciência de que o orar não é só falar ou dizer orações, mas é sobretudo escutar e responder a Deus, que falou primeiro…

 

Haverá, naturalmente, ocasiões em que «a água parece estar muito funda», em que não conseguimos concentrar o nosso espírito para orar. Mas é preciso não desanimar, porque para o Senhor o mais importante é a nossa fidelidade, é o «eu quero». É isso que Lhe agrada. E o mérito da nossa oração não resulta do gosto que nela sentimos, mas do amor com que a fizermos.

 

Se à partida pusemos o «eu quero», será na escuta de Deus, através da Sua Palavra, que iremos descobrindo o que Ele quer de nós…

 

Mais do que do pão para a boca, nós precisamos de nos alimentar da Palavra de Deus, pois é ela que nos ensina, nos corrige, nos conforta, nos dá a verdadeira vida (Mt. 4, 4). Assim, muito convirá que cerca de meia hora do nosso tempo de oração seja para lermos e assimilarmos a Palavra de Deus, o que podemos fazer seguindo as leituras da Missa de cada dia ou tomando outros textos bíblicos adaptados às circunstâncias.

 

Muito nos poderá ajudar na oração com base na Palavra de Deus algum bom livro de meditação, que poderemos escolher com o conselho do director espiritual ou do confessor.

 

É pela meditação aprofundada da Palavra de Deus que nós iremos aprendendo a «iminente ciência de Jesus Cristo» de que nos fala S. Paulo (Fil. 3, 8) e iremos descobrindo o que o Senhor quer de nós nas várias circunstancias da vida, para melhor O amar e Lhe agradar, procurando fazer sempre a Sua vontade.

 

O resto de tempo da nossa hora de oração poderá ser aproveitado para algumas orações vocais, em especial as recomendadas pelo Movimento, como o terço das santas chagas e a Oração do Coração Sacerdotal de Jesus. Mas também estas orações hão-de passar pelo nosso coração, mais do que pelos lábios, e assim servir para mais nos unirem ao Senhor.

 

Tendo sempre presente o espírito de reparação do nosso Movimento, devemos oferecer os méritos dos sofrimentos de Cristo e dos nossos em união com Ele, pelos pecados de todos os homens e pelas necessidades da santa Igreja.

 

Mas, além de rezar pela Igreja, devemos habituar-nos a rezar com a Igreja, conscientes de que, pela Graça, somos uma só Igreja em Cristo.

 

Ora, além da maior de todas as orações da igreja, que é a Eucaristia, a melhor maneira de orarmos com a Igreja é fazermos a chamada oração das horas, ou seja a oração de Laudes de manhã, de Vésperas de tarde ou à noite e de Completas ao deitar.

 

Assim, conforme a hora do dia em que tivermos o nosso tempo forte de oração, será muito aconselhável que rezemos a oração litúrgica correspondente a essa hora, certos de que com toda a Igreja estaremos a louvar, a agradecer, a pedir perdão e a suplicar pelas necessidades de todos os homens.

 

A ordem por que cada um possa distribuir os referidos tempos de oração fica naturalmente a seu gosto e critério, nada obrigando a fazer sempre da mesma maneira, até para não cair na rotina.

 

As nossas relações com Deus são filiais e por isso devem decorrer com toda a simplicidade e sobretudo com muito amor.

 

Poderá haver ocasiões em que, para falar com o Senhor, não serão precisas fórmulas nem livros e essa poderá até ser a melhor oração. Importa sobretudo estar atento e receptivo ao que o Senhor quiser.

 

Por vezes, sobretudo para quem não saiba ou tenha dificuldade em ler, a oração do terço poderá ser a que melhor ajude a «estar» com o Senhor, sobretudo através da meditação dos respectivos mistérios.

 

No Movimento costumamos terminar as nossas reuniões com a oração do Magnificat, em união com Maria. Essa será também a melhor maneira de concluir a nossa hora de oração, agradecendo ao Senhor o ter estado connosco e tudo o que nos concedeu, ao mesmo tempo que reafirmamos a disposição de, na nossa pobreza, tudo aceitarmos das Suas mãos, misericordiosas e providentes.

 

À medida que este tempo forte de oração se for tornando, juntamente com a Eucaristia,  o centro da nossa vida, iremos fazendo de toda a vida uma oração contínua.

 

Porque, à medida que nos formos dando conta de que é Cristo que reza em nós e que a nós cabe unir-nos à oração de Cristo, podemos chegar a dizer como a esposa do «Cântico dos Cânticos»: «durmo, mas o meu coração vela», trabalho, ando, descanso, mas o meu coração vela.

 

A NOSSA CONSAGRAÇÃO​

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1.   Entre as características essenciais que distinguem o MMOR, encontra-se o sexto selo, que é a consagração solene aos Corações de Jesus e Maria. Mas este selo não tem sentido, sem o quinto: viver e crescer habitualmente em graça.

Com efeito, o cristianismo não é um código de moral, um código de regras ou preceitos do que é preciso fazer ou evitar. É uma vida. É uma consagração ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Consagração esta que se realiza no batismo. E o viver o batismo com todas as consequências, é viver e crescer habitualmente em graça. E para quem não viver assim, não tem sentido a consagração, que consiste em ENTREGAR-SE, OFERECER-SE TOTALMENTE aos Corações de Jesus e Maria. Seria uma falsidade, uma falta de verdade.

O rito do batismo está cheio de simbolismo duma realidade interior que se opera em nós pelo Espírito Santo.

- Somos marcados com a Cruz de Cristo, símbolo de que deixamos de pertencer a Satanás e passamos a ser pertença de Cristo. Somos entregues a Cristo. Comprados com o Seu sangue.

- No batismo também somos ungidos, como no Antigo Testamento eram ungidos os sacerdotes, os profetas e os reis. A unção batismal simboliza o Espírito Santo que então nos é dado. Daqui, toda a riqueza de sermos batizados. É que pelo batismo ficamos a ser pertença de Cristo. Somos UM com Cristo. Podemos assim, de verdade chamar a Deus nosso Pai. Podemos viver como filhos no Filho.

Esta nossa pertença a Cristo, faz que sejamos participantes de Sua realeza, de Seu sacerdócio e da Sua missão de profeta.

O viver isto, é um dever de todo o batizado. Estamos consagrados para o Pai, para o Filho e para o Espírito Santo. Temos de ir crescendo na vivência desta realidade.

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2.   Mas é difícil, dada o nossa condição humana de homens pecadores. É difícil devido às resistências que sentimos na prática do bem e às solicitações para o mal que constantemente nos assaltam. Precisamos de oração, de auxílio, das ajudas de Deus.

Para nos ajudarem a vencer estas resistências, os Corações de Jesus e Maria fizeram as mais consoladoras promessas a todos aqueles que se consagram a estes dois corações.

É uma garantia, que estes consagrados terão graças especiais do céu pra viverem o seu batismo. Os corações de Jesus e Maria assim o prometeram. Não podem faltar.

Quem não conhece as doze promessas do Coração de Jesus em Paray-le-Monial? Promessas na ordem material e sobretudo de ordem espiritual: paz para as famílias, consolação nas aflições, refugio na vida e sobretudo na morte. Os tíbios tornar-se-ão fervorosos e os fervorosos chegarão a alto grau de perfeição. Promessas para os leigos, para os sacerdotes e para os apóstolos.

Em Fátima, o Coração de Maria promete ser refúgio. Naquele Coração Imaculado estarão os consagrados ao abrigo da onda de pecado e das investidas de Satanás.

É preciso dilatar o nosso coração, fazer e viver a consagração solene aos Corações de Jesus e Maria e toda a nossa vida se transformará. São os Corações de Jesus e Maria que o prometem.

Podemos comparar a consagração aos Corações de Jesus e Maria à nova arca de Noé, em que se deverão encerrar todos os que quiserem escapar a este dilúvio de pecado que assola o mundo e às suas trágicas consequências.

Poderíamos ainda comparar os solenemente consagrados aos Corações de Jesus e Maria, às casas dos israelitas assinaladas com o sangue do cordeiro pascal para não serem atingidas pelo anjo exterminador.

Assim também os solenemente consagrados são os assinalados para não serem atingidos pelo poder do mal. Têm um selo especial pertença aos Corações de Jesus e Maria.

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3.   E o que é verdadeiramente consagrar-se?

Não basta rezar uma fórmula mais ou menos bonita ou mais ou menos teológica.

É preciso assumir conscientemente o nosso compromisso batismal. É um ENTREGAR-SE TOTALMENTE aos Corações de Jesus e Maria. E esta ENTREGA implica necessariamente a vivência habitual da graça. Por isso a consagração não poderá produzir os seus efeitos, para os que habitualmente vivem em pecado.

Paa tomarmos consciência mais profunda do que é a consagração e o que implica, o nosso Movimento recomenda que, além de uma séria preparação da alma, seja precedida ou acompanhada de confissão e comunhão e tenha a presença dum sacerdote que, em nome da Igreja, ratifica essa consagração. Como somos compostos de alma e corpo, precisamos de certa solenidade exterior, que pode ajudar a compenetrar-nos mais do nosso compromisso.

​Numa palavra: consagrar-se significa simplesmente aceitar conscientemente os direitos de Deus e de Maria sobre nós. Também Maria tem direitos, maternais, porque nos foi dada por Mãe.

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